Acionistas da Petrobras temem “novo rombo no caixa”, diz representante

Por: Raphael Veleda
Fonte: Metropole
Leonardo Antonelli, que representa acionistas minoritários, defende
paridade internacional de preços e critica "sucessivas trocas"
Os ataques das maiores autoridades políticas da República contra a
Petrobras preocupam seus acionistas minoritários, que foram
especificamente criticados pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) como
culpados pelos reajustes no preço dos combustíveis. Membro do Conselho
de Administração da petrolífera entre 2020 e 2021 e representante de
acionistas minoritários, o advogado Leonardo Pietro Antonelli diz, em
entrevista ao Metrópoles, que “falta foco e liderança” na empresa, defende
a política de paridade com o preço internacional e diz que “qualquer
medida legítima” para resolver problemas de preço terá apoio do conselho.
“A estratégia de sucessivas trocas no comando da Petrobras não tem se
mostrado eficaz para a solução da alta dos combustíveis. A companhia
possui mais de 700 mil investidores privados e não é uma estatal, mas, sim,
uma sociedade de economia mista onde a maior parte do seu capital
pertence a investidores privados”, diz o advogado, após ser questionado
sobre as críticas de Bolsonaro.

O controle acionário
Atualmente, os acionistas privados têm pouco mais de 60% do capital total
da Petrobras – e quase metade deles são estrangeiros. O governo mantém
mais de 50% das ações com direito a voto e, por isso, indica o presidente e
a maioria dos diretores. Os votos, porém, não garantem ao governo poder
de influenciar na governança da empresa ou no compromisso de paridade
com o preço internacional do petróleo, políticas instituídas por lei no
governo de Michel Temer (MDB), em 2017.
“A maior parte do lucro da companhia vai para os brasileiros, pois o governo
é o maior acionista individual”, defende o representante dos acionistas
minoritários. “O petróleo é uma commodity. Num governo que prega o
liberalismo, tabelar preços ou tolher o lucro é um equivoco. Se hoje os
resultados da Petrobras se tornaram um sucesso, não podemos sofrer.
Temos que comemorar se ela consegue ter um dos menores custos do
mundo de extração do pré-sal”, completa Antonelli.
O advogado comemora o fato de que a governança da Petrobras “tem se
mostrado sólida”, pois as várias trocas de comando impostas pelo governo
federal não resultaram em ruptura com a paridade internacional de preços.
“As últimas notícias apontam que os preços seguirão acompanhando o
mercado mundial, evitando o surgimento de um novo rombo no caixa, que
em governos passados atingiu a cifra de R$ 250 bilhões”, afirma Antonelli.
“O controlador [governo] pode usar o caixa para fazer políticas públicas,
desde que compense os prejuízos. Já apresentamos uma série de soluções
para estancar a alta. Falta foco e liderança. Creio que qualquer medida
legítima que busque solucionar o problema contará com o apoio dos
conselheiros, desde que não atinja o melhor interesse da companhia e dos
seus 700 mil acionistas”, conclui o advogado.